Amigos,
Que realmente a vida nos reserva bons momentos, disso não temos a menor duvida. Mas o que se duvida muitas vezes, é que esses bons momentos venham em horas e lugares inesperados. Isso é o que torna uma surpresas em algo que surpreenda ou surpreendente...
Bom, chega de rolo...
Ontem cheguei em SP, desembarquei em Guarulhos umas 17hs, mas bem sabendo com seria voltar pra casa, resolvi me enrolar por ali um pouco. É bom aproveitar isso enquanto posso...
Fui comer um sanduiche, fumar um cigarro e ver que realmente as pessoas estão em pânico com o H1N1, a tal gripe suína. Aí fui lá pro ponto do ônibus que vai ao metrô Tatuapé, esperei chegar um vazio, pois estava com duas malas.
Mal sabia eu que estava era esperando ser surpreendido, estava esperando minha surpresa...
Sentei no primeiro banco, pois os reservados são as segundas e terceiras fileiras. Porém uma coisa que sempre percebo é que muitas vezes o ultimo lugar a ser ocupado nos coletivos é ao lado de onde estou sentado. Não sei se por causa dos dreads ou se sou estranho... Fuck off!!! Não ligo pra isso.
Mas eis que ao meu lado se sentou uma senhora, que logo começou a falar e fomos num papo animado até a estação...
Ela é do Rio de Janeiro e veio a SP por causa de uma pessoa que havia morrido. Estava indignada porque durante a cerimônia fúnebre as pessoas estavam bebendo Whisky. Fora isso se disse Fluminense fervorosa, contando desde de quando o clube tinha sede e São Cristóvão, isso antes de ir pras Laranjeiras. Como foi mesmo a história do "pó de arroz", que tipo de maquiagens foram usadas... Tudo em minuciosos detalhes...
"Eram dois homens de cor, fortes, bons de bola... Não gosto de chamar de negro. Um na esquerda e outro no meio. O Fluminense estava muito mal nessa parte."
Não estava satisfeita com a musica de hoje, nem dos novos artistas muito menos de muitos dos antigos. "É meu jovem, o artista da musica tem que cantar com amor. Não vai existir um cantor igual Orlando Silva."
E o Cartola? A senhora gostava?
"Claro garoto!!! Além de ser fluminense ele cantava o amor e com amor. Você não lembra aquela musica das rosas..."
As rosas não falam?
"Aquilo alí era o amor dele pela Zica, ninguém que cantou ou cantar essa musica vai trazer esse sentimento."
Depois falou de futebol novamente, se mostrando bem entendida de tudo que falava, tinha propriedade. A maior torcida do Brasil era a do Corinthians, por que além de ter muitas bandeiras do clube em jogos internacionais, mesmo os de seleção, a torcida é de gente que em sua maioria já tenha visto o time jogar.
"Agora torcedor do Flamengo tem em todo canto, mas eles não sabem a história do time, entraram pela maioria"
A senhora tem razão. Meus amigos do Rio que torcem pro Fluminense sabem bastante da história do clube. Sou são paulino e vejo que realmente a torcida cresceu muito, mas somente em função dos títulos mundias, da era Raí etc.
"O futebol tem muita injustiça, igual a música. Você não viu o Wilson Simonal? Que fizeram com ele foi uma injustiça!!! Ele era um cara pra frente, ousado, abusado, mas era de cor, né? Se hoje ainda é difícil..."
Aí chegamos, ajudei a interessante senhora, no auge de seus 85 anos, chegar na entrada do metrô. Lá eu disse pegaria o metrô e podíamos conversar mais.
Ela disse que já tinha o bilhete, eu também tinha.
Ela ia no mesmo sentido que eu.
Mas disse que eu podia ir, por que ela preferia ir devagar...
Moral da história:
Achei que a simpática senhora puxou assunto talvez por receio e que quando chegamos na rua, ela se distanciou.
Mas valeu a pena, pessoas assim alimentam tanto quanto bons livros...
P'